Os meios numa campanha eleitoral...
Modo de emprego
As campanhas eleitorais não são campanhas publicitárias.
Quando uma agência de publicidade pretende impor à percepção e à memória
do consumidor um produto utiliza em princípio meios visuais. É a televisão, são
os cartazes na via pública. Se o produto é destinado a consumidores bem
informados e de elevado poder económico, por exemplo, os serviços bancários
ou os automóveis de luxo, provavelmente eles serão anunciados na imprensa
destinada à elite económica. Numa campanha publicitária de um produto de
consumo de massas, a segmentação, a mensagem e a utilização dos meios,
formam equações relativamente simples.
Numa campanha eleitoral, a segmentação mais
relevante destes muito peculiares consumidores chamados eleitores, não está
tanto associada com o seu nível socioeconómico, mas com o seu interesse pela
política e com o seu nível de informação. Um grupo de militantes políticos
pobres, por exemplo, tem uma maior similitude de comportamento eleitoral com um
grupo de profissionais universitários pertencentes a uma elite cultural, do que
com um outro grupo de eleitores igualmente pobres, mas desinformados e
desinteressados da política.
A utilização de meios numa campanha tem que se
acomodar às regras de comportamento dos eleitores. Estas regras não
correspondem às dos compradores de produtos de consumo de massa. Diversamente
de uma campanha publicitária comercial, onde usualmente se começa por tornar
conhecido um produto até então pouco notório, numa campanha eleitoral temos
que começar por renovar as lealdades e os compromissos dos que já conhecem e
apreciam o nosso "produto" seja este um candidato ou um partido. Por
isso, o melhor meio de comunicação, no início de uma campanha, é constituído
pelo conjunto dos canais de comunicação internos do partido político.
É sabido que um candidato que quer ganhar tem que
começar a sua campanha por fortalecer as lealdades dos dirigentes políticos do
seu partido, visitando-os. Como um general que se prepara para uma batalha terá
que fortalecer o vínculo pessoal com os seus oficiais. Isto é assim, não só
porque não houve, nem haverá, meio mais eficaz de comunicação política do
que a interacção directa entre o candidato e o eleitor, mas também porque
cada dirigente político representa uma pluralidade de votos, o que faz com que
os poucos inicialmente contactados, sejam muitos no final da campanha. Há
primeiro que crescer qualitativamente para depois crescer quantitativamente e
ganhar as eleições.
O fortalecimento do voto forte e a activação e
mobilização dos dirigentes políticos do partido é a aposta na abertura da
campanha. Para este objectivo o melhor meio é o mais directo: a visita pessoal,
a chamada telefónica, a carta pessoal (o mailing). A isto se chama marketing
directo.
Os meios para ganhar qualidade numa campanha
eleitoral
Os multiplicadores de votos que há que motivar e
ganhar no princípio de uma campanha são o voto duro do partido e dos líderes
de opinião. O voto duro e os dirigentes do partido formam a máquina que se porá
em marcha gerando mais votos. Quanto maior for este factor multiplicador, melhor
será o resultado final. Uma lógica estrita e uma aritmética simples.
Os líderes de opinião e o voto duro partilham uma
qualidade relevante: interessam-se pela política e estão informados. Eles lêem
jornais. Por esta razão no princípio da campanha há que utilizar os jornais.
Muito e bem.
Os líderes de opinião e os dirigentes do partido,
sejam grandes ou pequenos, tem outra qualidade também interessante: são poucos.
Esta característica comum habilita e outorga uma grande eficácia a um meio
caro e para poucos: o mailing. A mesma característica faz destes dois grupos um
objectivo obrigatório para que o candidato lhes conceda muito do seu escasso
tempo.
Jornais, mailing, contacto directo, são os meios
privilegiados do início de qualquer campanha. Agora há que atender à massa
dos simpatizantes, aqueles que se identificam com o nosso partido e que, se tudo
correr bem, não só votarão em nós, como nos ajudarão durante a campanha.
Esta gente vê com bons olhos e nutre bons sentimentos pelo nosso partido. Para
lá do mais, interessam-se muito pela política. A eles nos dirigiremos nos
meios partidários e nos programas radiofónicos sobre política.
Levar-lhes-emos a nossa proposta política por meio de impressos, folhetos,
volantes. Reforçaremos o seu sentimento de identidade com o nosso merchandising
de campanha.
Conquistando os indecisos: um saboroso menu de
argumentação e rádio.
À medida que decorre a campanha vamos deixando para
trás o território firme e temos que chegar aos que têm dúvidas. Os famosos
indecisos são os árbitros de toda a eleição, mas quem são os indecisos e
por que meios os podemos convencer?
Temos que saber que há pelo menos duas classes
muito diferentes de indecisos. Os que sabem que há uma eleição, mas não
sabem em que candidato votar, e os que, por e simplesmente, não se interessam
pela política, não se informam, e portanto não sabem o que vão fazer até à
véspera do dia das eleições. Chamamos aos primeiros indecisos e aos segundos
desinteressados.
Aos indecisos propriamente ditos oferecemos-lhes
argumentos sedutores. Aos desinteressados, imagens e emoções. Aos primeiros
convencemo-los com argumentos políticos, aos desinteressados ganhamo-los com
persuasão não política.
O melhor meio argumentativo numa campanha para
aqueles que não lêem com frequência os jornais, é a rádio. Na rádio
apresentamos as nossas melhores ideias e propostas. A rádio não nos agride com
imagens e por isso os argumentos que se escutam, recordam-se. Geralmente a formação
dos políticos, especialmente os de maior qualidade, é mais radiofónica do que
televisiva. Nesta altura, a meio da campanha, é bom nutrir a agenda do
candidato com programas radiofónicos. É um bom investimento do tempo de que
este dispõe e é um meio barato, especialmente se nos convidam para programas
políticos ou de informação.
À medida que se aproxima o dia da eleição os
eleitores menos interessados pela política, menos informados, são atraídos
pela campanha e formulam a sua intenção de voto. A regra é: os primeiros a
decidirem em quem vão votar são os que mais se interessam por política e os
que mais se informam, os que não se interessam por política decidem só no fim
da campanha. Por isso é que é eficaz dirigirmo-nos aos líderes de opinião (interessados
e informados) no início da campanha conjuntamente com os dirigentes políticos
e militantes. Por isso é que é eficaz dirigirmo-nos aos indecisos e informados.
Por isso mesmo há que começar a campanha com mensagens e meios de argumentação.
Imprensa, rádio, mailing. Porque são os interessados em política.
Como se ganha o eleitorado no final de uma
campanha
Durante uma campanha há que introduzir modificações
ou simples nuances semana após semana. É necessário passar de um pólo de
argumentação e de persuasão política apropriado para o arranque da campanha
para um outro pólo de imagens e de emoções mais adequado para os últimos
dias. No decurso da campanha é necessário ir doseando estas duas polaridades.
Nos jornais começa-se por usar os melhores argumentos, continua-se depois
expondo uma síntese do nosso programa de governo e conclui-se com a imagem do
candidato envolta de slogans e fotografias de multidões aderentes anunciando a
vitória.
Na rádio começa-se com os argumentos, a plataforma
política, as ideias de governo. Continua-se com os temas centrais e directores
da campanha, o slogan e o jingle. Encerra-se quase exclusivamente com jingle,
emoção, sensação de triunfo, força, entusiasmo. Tudo o que possa ser
transmitido pela rádio, não esquecendo os argumentos.
Não obstante, os finais de campanha têm os seus
meios próprios e específicos: a televisão e os grandes cartazes na via pública.
O eleitoral de final de campanha não vota em partidos ou em ideias, vota em
pessoas. Há que personalizar portanto a campanha, centrá-la na figura e na
imagem do candidato. Para isso os grandes cartazes na via pública cumprem muito
bem a função porque transmitem personalização e poder. Porém, a arma estratégica
de um final de campanha é a televisão. A televisão comunica imagens e emoção
que é o que os eleitores cuja adesão há ainda que disputar na recta final
necessitam para decidir o destino do seu voto.
Um bom manejo da televisão é uma das chaves
principias para ganhar eleições. Em cada momento da campanha a televisão
cumpre funções diferentes. No princípio serve para tornar notório, conhecido,
o candidato. No meio serve para fixar o princípio director da mensagem na
percepção dos eleitores. No final serve para ganhar quase a quarta parte do
eleitorado, aquela parte que não se interessa por política. No final a
campanha na televisão é decisiva e é aí que há que investir o grosso dos
recursos.
No final da campanha a televisão serve para
personalizar a mensagem. A televisão faz recordar rostos, pessoas, gestos,
atitudes. Esquecem-se argumentos e programas. Através da televisão constrói-se
a percepção de que o nosso candidato é o melhor. Com a câmara, com a edição,
com os spots que produzimos, os eleitores que não se interessam por política e
que não são sensíveis a argumentos partidários ou ideológicos, vão-se
seduzindo por um candidato que tem uma figura poderosa, que mobiliza muita gente,
que é dinâmico, que é próximo do cidadão comum.
Uma campanha eleitoral não é uma campanha publicitária.
A mensagem da campanha não pode ser igual a uma mensagem publicitária. Os
segmentos do eleitorado não são os famosos A, B, C, D, E, do marketing
comercial. Os meios numa campanha utilizam-se também de uma maneira muito específica
correspondente com as qualidades muito próprias deste público muito especial a
que chamamos eleitores. Por isso desenvolveram-se técnicas especiais de
trabalho para as campanhas eleitorais, por isso os especialistas em campanhas
eleitorais geralmente não trabalham com agências de publicidade, mas com
produtoras que elaboram de modo directo os materiais necessários à estratégia.
Faz-se uma boa campanha quando se constrói uma
mensagem adequada que se situe no centro de interesse dos eleitores no seio dos
quais o candidato tem maior credibilidade, quando, no momento certo, esta
mensagem se dirige ao segmento alvo dos eleitores e quando o uso dos meios
obedece à lógica da maior efectividade. Isto só sucede quando uma campanha se
faz com um especialista, com um profissional que conheça todo o processo
produtivo de uma campanha eleitoral.
Os melhores candidatos, aqueles que estão
inteiramente metidos na política, sabem que não se pode improvisar numa
campanha eleitoral. Não é por acaso que os melhores candidatos, sem excepção,
sabem instintivamente socorrer-se daqueles que lhes podem prestar a melhor
colaboração.
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