Tempos...
A
utilização dos tempos numa campanha eleitoral...
As campanhas eleitorais são processos complexos. Existe
um conjunto amplo de variáveis que se combinam produzindo desenvolvimentos
particulares em cada uma delas. Os que já trabalharam em campanhas, de maneira
militante e não profissional, terão visto que algumas de estas variáveis se
apresentavam de forma reiterada, de uma experiência para outra, o que permite
que, mesmo aqueles que não são especialistas, possam manipular muitos aspectos
de forma efectiva e controlada.
Outros processos mostram-se mais obscuros, ou com uma lógica
mais intrincada, para os que acompanham de perto o processo de uma campanha
eleitoral. Entre estes estão, sem dúvida, a manipulação dos tempos numa
campanha. Quando se desconhece a lógica de administração dos tempos surgem,
de forma substitutiva, perigosas versões de senso comum. A mais conhecida e
letal manifestação do senso comum diz-nos que se um conteúdo determinado de
comunicação nos fez subir nas sondagens no princípio da campanha, deveremos
agarrar-nos a ele e seguir assim, esta linha de discurso até ao fim. O que
acontece sempre, utilizando este método intuitivo, é que crescemos um certo
tempo, até metade da campanha e depois paramos e no final caímos nas sondagens
e perdemos a eleição.
Isto sucede porque cada fase de una campanha eleitoral tem
uma lógica própria. Em cada fase de campanha há grupos alvos diferentes que
se activam politicamente, devem-se usar formatos diferentes da mensagem, devem-se
usar meios específicos para cada momento. Se não conhecemos a lógica dos
tempos de uma campanha arriscamo-nos a um processo semelhante ao de fazer uma
transfusão sem conhecer os tipos de sangre. Podemos, com muitíssima sorte,
acertar, mas a enorme maioria das vezes esta tentativa terá um resultado
catastrófico.
A
chave dos tempos
Para administrar de maneira eficaz os tempos duma campanha
devemos utilizar o seguinte principio: temos que dirigir-nos, momento a momento,
aqueles eleitores que se activam politicamente e iniciam o seu processo de decisão
de voto. Cada tipo de eleitores toma a
sua decisão de voto em momentos diferentes da campanha. Cada tipo de eleitores
toma a sua decisão de voto com abordagens de comunicação diferentes.
A localização dos nichos dos diversos grupos e os seus
momentos específicos de processo de decisão de voto consegue-se por estudos
específicos aos eleitores. Como regra geral, os eleitores mais informados e
mais interessados na política tomam a sua decisão de voto numa fase precoce da
campanha. Pelo contrário, os eleitores menos informados, menos participantes e
menos interessados na política tomam, se o chegam a fazer, a sua decisão de
voto mesmo no fim da campanha. Muitas vezes na última semana antes da eleição.
Estes diferentes grupos são sensíveis, a diferentes
tipos de mensagem e diferentes tipos de meios. Os eleitores informados,
politizados e participantes tem como motivação principal de decisão de voto a
ideologia, o programa, os argumentos de um partido o candidato. Informam-se
principalmente por meios argumentais como a imprensa ou a rádio, e na televisão
interessam-se pelas notícias e pelos programas de jornalismo político.
As pessoas pouco informadas, desinteressadas da política,
não lêem os jornais, não votam no programa nem nos argumentos mas na pessoa.
Sabem dos acontecimentos pela televisão, mas não lhes interessam os programas
políticos. Como não se interessam pela política, decidem influenciadas por
formas de persuasão principalmente não políticas. Simpatia por um candidato,
emoções ou imagens.
O tempo
como delineador da estratégia
A centrifugação natural que se dá entre os eleitores
segundo os seus momentos de decisão de voto faz com que o tempo seja a variável
principal da estratégia. Mesmo que já tenhamos definido a mensagem da campanha,
os grupos objectivos a atingir e os meios a utilizar, devemos distribuir estes
componentes segundo critérios bem estabelecidos de tempo. O Timing numa
campanha é fundamental.
Ao princípio da campanha começaremos a trabalhar com os
líderes de opinião, dirigentes políticos e sociais e eleitorado natural ou
“voto duro”. Estes eleitores são informados, interessados na política,
participantes. Numa primeira fase privilegiaremos este target. A mensagem deverá
ter abundante, deverá ter sólido conteúdo argumental, racional e de persuasão,
estritamente políticas. Utilizaremos meios argumentais. A imprensa, a rádio,
os programas políticos e de informação.
No final da campanha, pelo contrário, sabemos que se
activam politicamente eleitores pouco informados. Para eles, a comunicação terá
conteúdos não políticos, pouco racionais e carregados de emotividade, sensação
de poder, atributos de imagem e incluso humor. Como meios de privilégio,
utilizaremos a televisão e os outdoors. Imagem, emoção e poder.
Para cada componente da campanha, seja um grupo alvo,
mensagem ou meio, existe um momento ideal onde estes elementos se convertem em
elementos críticos, onde cada um destes factores são os responsáveis de que a
nossa campanha adquira uma eficácia máxima. Conhecer a lógica dos tempos
permite construir a nossa campanha sobre um itinerário de máxima rentabilidade.
Esta eficácia assegura-nos o retorno em votos do investimento que fizemos dos
nossos recursos na campanha. Trabalhar assim pode significar, em eleições
tangenciais, a simples diferença entre o êxito e o fracasso.
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