Grupos Objectivo...
Campanhas
eleitorais
Vamos centrar esta apresentação sobretudo, devido ao calendário
eleitoral, nas eleições autárquicas. As suas principais características
e as linhas fortes para elaborar uma campanha.
Os alvos móveis. A definição e itinerário
dos grupos objectivo.
Uma campanha
eleitoral é um processo complexo. É preciso pensar no candidato e na sua
imagem, no discurso que este transmite e nos diferentes grupos de eleitores. A
cada grupo temos que oferecer uma mensagem diferenciada, adaptada às suas
características, que tenha em conta os seus desejos, os seus gostos, os seus hábitos,
os seus receios. Também é necessário chegar a eles por meios específicos,
aqueles meios que eles frequentam, lêem, escutam ou vêem. O mais difícil é
saber quando devemos passar de um grupo objectivo a outro e porque devemos
faze-lo.
É sabido que os
eleitores são um grupo muito heterogéneo. Alguns são informados e interessam-se
pela política. Outros detestam a política, ou não lêem habitualmente os
meios de comunicação. São vários os nichos sociais de eleitores, urbanos e
rurais, abastados e com dificuldades, cultos e analfabetos. O voto de todos
conta. As eleições ganham-se às vezes por uma margem de pouquíssimos votos.
Não podemos facilitar o trabalho ao nosso adversário esquecendo-nos de alguém.
Cada um destes grupos ou tipos de pessoas são relevantes. Mas como fazer para
ter uma mensagem coerente e simples fazendo uma campanha eleitoral para gente tão
díspar?
Cada grupo a seu
tempo.
Quando há uma
situação potencialmente caótica devemos organizá-la. Mas como ordenar este
universo tão especial? Aproveitando uma característica muito útil (para um
director de campanha) destes diferentes grupos: cada segmento toma a sua decisão
de voto em momentos diferentes. Os mais interessados na política tomam a sua
decisão de voto no princípio da campanha, os menos interessados no final. Por
outro lado há segmentos muito especiais, os líderes de opinião, que, para além do momento concreto em que
tomam a sua decisão de voto, interessam-nos pela sua capacidade de influenciar
outros votos, além do seu voto. Estas pessoas, com muita influência sobre o
seu meio, são verdadeiros votos plurais. Temos que nos preocupar com eles desde
o princípio da campanha, porque dar-lhes uma atenção permanente permite-nos
crescer numa primeira fase de forma qualitativa, e asseguramos depois um
crescimento quantitativo firme que permite ganhar a eleição.
Cada grupo
objectivo, num plano de campanha, deve ordenar-se no tempo. Um cronograma de
campanha, antes que nada, é uma lista ordenada dos grupos objectivo que vamos
ter a privilegiar dia a dia.
Para além das
particularidades de cada lugar, às quais temos sempre que prestar enorme atenção,
trabalhamos sempre com um esquema predefinido de atenção de grupos objectivo:
primeiro, no início da campanha, ocupamo-nos dos líderes de opinião, do voto
duro (aqueles eleitores que se identificam claramente com o nosso partido) com
os eleitores naturais (aqueles mais permeáveis à nossa mensagem), depois, a
meio da campanha, com as pessoas mais independentes, mas relativamente
informadas e com algum interesse pela política, por último, no final da
campanha, com aqueles eleitores desinformados e desinteressados da política.
Depois, em cada grupo, faremos desagregações mais finas, de forma a atingir
todos os níveis e subgrupos.
O
primeiro conjunto: líderes de opinião, voto duro e eleitores naturais.
No princípio da
campanha há grupos que devemos privilegiar para dar um rendimento máximo ao
nosso investimento nos recursos de comunicação. Neste momento os líderes
de opinião são um grupo crítico. Se liderarmos a conquista dos votos
dos líderes de opinião estaremos tomando liderança na campanha. Os dirigentes
políticos, grandes, médios, pequenos; os líderes sociais, sindicais,
profissionais, as pessoas com uma actividade económica relevante, empresários,
proprietários de terras, financeiros, gente de negócios, todos são líderes
de opinião relevantes. A eles devemos adjudicar uma importante porção do
tempo do candidato e dos materiais de campanha. Os líderes de opinião são
factores multiplicadores de votos. Se tivermos a maioria dos líderes de opinião
connosco, no final da campanha nossos votos multiplicar-se-ão por um factor
elevado e teremos as maiores probabilidades de ganhar a eleição.
O voto
duro e os eleitores naturais são os votos mais fáceis de conseguir. São
gente que já votou connosco ou que naturalmente, pela sua situação na
sociedade, ou por atitudes políticas básicas, estão já inclinados a votar em
nós. A consolidação e mobilização destes grupos no princípio da campanha
são vitais. A pior noção que podemos ter é dar este voto como
garantido e não investir recursos de campanha nele.
O segundo conjunto: os
independentes e indecisos informados.
Numa segunda fase
da campanha, já trabalhados os líderes de opinião, o voto duro e o eleitorado
natural, temos que seguir com nosso itinerário. Agora devemos dirigir-nos de
maneira prioritária a um grupo de eleitores com preferências mais incertas.
Esta gente não tem uma identificação partidária forte. O partido pode fazer
pouco para captar estes eleitores. Temos que ganhá-los com a sedução do
candidato e com a pertinência e boa comunicação de nossas propostas.
Estes indecisos
informados lêem, ainda que não seja todos os dias, a imprensa, escutam ou vêem
esporadicamente, programas jornalísticos ou políticos de rádio e de televisão.
Temos que chegar a eles com bons argumentos, poucos, os melhores. Os bons
argumentos transmitem-se melhor por imprensa e rádio. Através destes meios
chegaremos a este grupo. Este é o momento em que o candidato deve mostrar a seu
poder de convicção. Sedução e sensação de capacidade. Dinamismo,
diferenciação. Todos estes elementos são factores de decisão privilegiados
para este grupo objectivo.
O grupo objectivo
final: os indecisos estruturais. Desinformados e desinteressados na política.
Quando chegamos à
fase final da campanha, no último mês, temos ainda uma grande porção de
eleitores para captar. A três ou quatro semanas da eleição temos pelo menos
um quarto dos eleitores disponíveis, sem uma decisão firme de voto. Estes
indecisos estruturais são, na realidade, desinformados. Não duvidam entre
varias opções como o grupo objectivo anterior. A maioria das vezes esta gente
não sabe que há eleições nem o que se elege. Só nos últimos dias
antes da eleição termina por informar-se. Nesse momento sabe que tem que
decidir-se por alguém e processo a sua decisão de voto com uma lógica muito
diferente a dos outros eleitores. Os argumentos políticos quase não contam. A
imprensa também não, só conta um pouco a rádio. O grupo objectivo final
capta-se com emoção e com imagem, não com argumentos.
Com a sedução do candidato. O grupo objectivo final vota pessoas. Não vota nem em partidos, nem programas, nem ideologias,
nem toma em conta os argumentos políticos. Também vota no que se apercebe que
vota a maioria. Por isso é muito importante dar sensação de poder, gerar a
impressão de que vamos a ganhar. Quando conseguirmos transmitir a sensação de
que vamos ganhar, geralmente ganhamos. Uma profecia auto-realizada sustentada é
fundamental para este grupo objectivo de finais de campanha. Por isso os grandes
cartazes de rua funcionam muito bem no fim da campanha. Impondo a imagem do
candidato, dando sensação de poder.
Conclusão: um formato de mensagem, um meio e
um momento para cada eleitor.
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